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TEXTOS EM PROSA

Textos pessoais em prosa, excertos de livros, comentários a certo tipo de imprensa etc.

TEXTOS EM PROSA

Textos pessoais em prosa, excertos de livros, comentários a certo tipo de imprensa etc.

29 Mai, 2007

TENDÊNCIAS

Duas tendências  generalizadas que passam despercebidas podem afectar o ser humano:

Comparar-se a gente com os outros sem que se tenha comparado consigo própria o mais provável será que nos leve à estagnação...

Conseguir a gente enganar-se a si mesma impede que aquele que chega sempre atrasado se aborreça  mais consigo próprio do que com aqueles que o aborrecem subjectivamente...
27 Mai, 2007

A HUMILDADE

O preconceito pode levar-nos a formar uma ideia distorcida do carácter das pessoas.
Certamente que não será descabido dizer que, embora tida por nós como arrogante e pretensiosa, presta uma grande prova de humildade a pessoa que, tendo o sonho de vir a "fazer televisão", luta com esperança por esse sonho e não deixa de agarrar a oportunidade de lhe dar vida num programa que vai para o ar às duas horas da tarde de Sábado, isto é, completamente fora do horário nobre, que nem sequer é promovido nesse mesmo horário pela estação televisiva, e no qual essa pessoa tem por missão colocar perguntas irreverentes e pessoais aos seus entrevistados ...

Nos primeiros três  meses de 2007, para quebrar a rotina do dia-a-dia, percorri as freguesias dos concelhos de Setúbal e Palmela, caminhando quatro a cinco horas por dia.
Retomei a mais importante rotina que havia quebrado, no dia quatro de Abril;desde então já vou no meu décimo livro lido, todos eles de autores estrangeiros.
Gostaria de ler também autores portugueses, mas só não o faço porque... dos clássicos já li os muitos livros que me despertam interesse, alguns deles mais do que uma vez;dos contemporâneos li com agrado grande parte dos livos de José Saramago; li também os romances de José Régio que fazem parte da obra inacabada "A Velha Casa"; de Lobo Antunes li um livro, só por obrigação e jurei para nunca mais; de Lídia Jorge li "O Jardim sem Limites", mas não consigo ler mais nenhum; li o romance "Em Casa de Estranhos" de Margarida Brum; "O Delfim" de José Cardoso Pires não consegui terminar a sua leitura; também não cheguei ao fim da leitura do romance de Agustina Bessa Luís "Terras do Risco", e assim por diante...
Escolhi,como décimo primeiro livro deste ano, o romance  "Lillias Fraser" de Hélia Correia, satisfeito com o seu resumo, cujo início é o seguinte: «"Lillias salvou-se da carnificina porque, seis horas antes da batalha, viu o pai morto como ele haveria de morrer mais tarde." A batalha é a de Culloden, na Escócia, em 1746, entre as tropas de William Augustus e Charles Stuart.(...)». Todavia, não me lembrei de folhear o volume para me certificar se se tratava de uma narrativa com ou sem dialogos. Infelizmente é mais um livro que terei de pôr de parte uma vez que praticamente só o narrador fala ao longo de mais de duzentas páginas: quem estudou um pouco de psicologia sabe que o ser humano não tem capacidade parar ouvir com atenção o seu interlocutor durante muito tempo...
Inexplicavelmemte, a escritora, que nasceu em 1949, usa vocábulos e expressões que só se começam a ouvir após a entrada em portugal das novelas brasileiras, quando a autora já era demasiado crescidinha para reaprender a língua materna: perder para em vez de perder a favor de, fundos em vez de traseiras, tanto quanto nos casos em que seria mais aconselhável tanto como*, além do mais em vez de além disso, chamavam de «roly-poly-square» em vez de chamavam «roly-poly-square» etc. O recurso constante a metáforas, poéticas sem dúvida, não compensa de modo nenhum a castração, pela quase ausência de discurso directo, da acção que os acontecimentos que se esforça por narrar têm por natureza...
A autora ultrapassou o problema do espaço limitado comum a quase todos os escritores portugueses, mas sem acção batalhas e terramotos são como águas estagnadas...

* O António tem tanto dinheiro como o Francisco, mas o Francisco faz tanto bem quanto a sua fortuna lhe permite.
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Jacobite

In Britain, a supporter of the royal house of Stuart after the deposition of James II in 1688. They include the Scottish Highlanders, who rose unsuccessfully under Claverhouse in 1689, despite initial victory at the Battle of Killiecrankie; and those who rose in Scotland and northern England in 1715 (the Fifteen) under the leadership of James Edward Stuart, the Old Pretender, and followed his son Charles Edward Stuart in an invasion of England from 1745 to 1746 (the Forty-Five) that reached Derby; see United Kingdom: history 1714–1815, the Jacobite rebellions. After the defeat at Culloden, Jacobitism disappeared as a political force.

25 Mai, 2007

LAGARTO HEIM!

Tardinha já crepúsculo. Atraca um barco convencional que liga Setúbal à península de Troia . Pessoas afastam-se e dirigem-se para a cidade. Sem qualquer premeditação, sem qualquer interesse, levado apenas pelo impulso de quem vê alguém que lhe é familiar : "Você é o Lagarto, não é? ". O homúnculo embezerrou, cobriu o rosto com a expressão de quem fala com os seus botões: "Mas este indivíduo conhece-me a mim, ou eu o conheço a ele de algum lado?
Quando João Lagarto aparece no ecrã do meu televisor mudo de canal porque devemos respeitar a privacidade dos actores que nos entram pela casa dentro sem que hajam sido convidados...

 

Nem sempre é fácil captar, num rádio portátil, em condições auditivas minimamente aceitáveis, grande parte das estações emissoras, daí que, julgo que no Sábado, por volta do meio-dia, sintonizei, temporariamente , a RFM , no momento em que a animadora perguntava a um ouvinte, com o qual mantinha uma conversa telefónica: " Que anda você a fazer aí pelas Caaaldas ?".
Uma vez que Herman José parece finalmente começar a cair em declínio, talvez tenha chegado a altura de esta animadora de rádio, que é incapaz de resistir à malícia e ao calão, surgir num programa televisivo de grande audiência (em programas, à hora do almoço, que ninguém vê, não vale a pena) para dar vazão às suas piadas hermanianas de baixo-ventre...
23 Mai, 2007

ANOREXIA

São conhecidos muitos casos de anorexia nas jovens que se alimentam indevidamente para serem magras, "influenciadas" pelas modelos. Criou-se a falsa dicotomia Gorda---Magra . Também se fala muito nas pernas compridas das modelos. E, assim, se enraíza nas cabecinhas das moçoilas a ideia de que magra com pernas compridas é meio caminho andado para ter corpo de modelo...
As jovens modelos não são nem gordas, nem magras, nem têm pernas compridas indistintamente.
As jovens modelos são mulheres esbeltas e sensuais.
É preciso explicar às jovens que nem gordura é formosura , como se dizia antigamente, nem magreza é corpo de modelo, como parece julgar-se actualmente; que só através duma alimentação saudável permanente as mesmas jovens poderão exibir a beleza possível dos seus corpos...

Há dias Cláudia Macedo foi apresentada, aos microfones da Kiss FM Lisboa com a seguinte pergunta: " Apresentadora ou actriz?
Da conversa mantida com as pessoas de serviço deduzi que se tratava duma jovem que fez parte do elenco da telenovela " Jura " e colaborava num programa de péssima qualidade que se intitulava (não sei se ainda existe) " Êxtase ".
No que respeita a esta jovem, tudo o que disse pareceu-me bastante acertado, principalmente, quando respondendo a uma dada pergunta disse: " Nasci em Portugal, sou portuguesa "- 
Ao pesquisar na Internet, para confirmar a minha praticamente certeza, encontrei, por acaso, uma entrevista à locutora da RFM , Joana Cruz. 

– Nunca se sentiu tentada a fazer informação?
– Acho que não tenho perfil para isso.

Estou perfeitamente de acordo, dado que a Dra. Joana Cruz quando escreve mais de duas linhas produz um texto incongruente.

“Sou uma
animadora por natureza. A minha outra opção era teatro, escolhi
comunicação social, por isso me sinto mais vocacionada para animadora de rádio”

Não estou de acordo porque a principal tarefa do animador de rádio é falar de improviso; para falar de improviso com fluência são necessárias duas qualidades complementares: facilidade de expressão e domínio da língua materna.
Não será preciso ouvir muito tempo Joana Cruz no desempenho de animadora de rádio na RFM para se verificar que muito raramente consegue ligar as orações duma frase que tenha mais do que uma...


“Sempre me
senti mais inclinada para fazer rádio ou televisão.Tenho a noção
de que sou uma sortuda porque faço aquilo de que gosto”

Muito mais sorte tem a nenina Joana por não lhe exigirem qualidade naquilo que faz...

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
Página 1272
Bicha 8. Fileira de pessoas (ou de qualquer coisa) dispostas umas após outras, fila.
Contrariamente ao que afirmou a cantora brasileira Marina Elali, num programa televiso, também no brasil é normal dizer-se bicha nas mesmas situações em que as pessoas normais o dizem em Portugal.

Publicações Europa-América
E. M. Forster
Passagem para a índia, página 84:
"--- Meu caro jovem doutor, diz o roto ao nu... ! Não conhece o ditado?"
Miguel ângelo, vocalista dos Delfins, disse, aos microfones da Kiss FM Lisboa, que havia alertado os elementos da banda espanhola Los Rotos, para o facto de terem de mudar de nome em portugal.
Não quererá Miguel Angelo proceder do mesmo modo em relação ao texto supracitado?

Sou forçado a concluir que a malta do mundo da música (e, pelos vistos, também o Ricardo) anda muito enrabichada com palavras que porventura possam ter uma acepção sinónima de indivíduo efeminado ou até mesmo com aquelas que só a têm na linguagem de grupos socioculturais mais rasteiros...
--------------------------------------------------------------------------------------------          (Mas todas estas realizações foram apenas o preâmbulo do grande desafio da vida de Houaiss. Em 1986, ele deu início à elaboração de sua obra máxima: o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Assumiu o desafio e o compromisso de fazer o mais completo dicionário da nossa língua, acompanhou todas as etapas de criação e elaboração da obra - até sua morte em 1999. O dicionário foi concluído por sua equipe, hoje reunida no Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia, no Rio de Janeiro.)
21 Mai, 2007

QUE GRANDE PIRUETA!

Sempre ouvi dizer que, de acordo com  a velha máxima, o segundo é o primeiro dos últimos.
Contudo, os jornais Record e A Bola, ao longo de toda a temporada, tanto porfiaram que conseguiram convencer-me de que o segundo e o terceiro são os primeiros e todos os outros são os últimos.
Então não querem lá ver que a cambada destes dois jornais anti-desportivos fizeram uma pirueta digna do melhor artista de circo e vêm hoje a dar o dito por não dito prestando honras de primeira página ao primeiro classificado do campeonato, honras essas que só lhe haviam sido concedidas quando jogou com o segundo, com o terceiro, ou quando não ganhava a um dos outros últimos.
Será que algum dia os benfiquistas  e os sportinguistas irão compreender que o grande trunfo do FCP se deve ao facto de os seus jogadores, técnicos e dirigentes, não estarem sujeitos ao desgaste provocado pelo aparecimento diário nas primeiras páginas dos supracitados jornais, desgaste esse a que estão sujeitas todas as pessoas ligadas aos já quase crónicos segundo e terceiro?   



(...) Este problema de ver o que eu tentava fazer leva-me aos críticos e ao risco de provocar um bocejo. São tristes estas questiúnculas entre escritores e críticos. O público habituou-se tanto a elas que pensa, como para o caso de birras entre crianças: «Ah, sim, coitadinhos, lá estão eles outra vez!» Ou então: «Vocês, escritores, recebem todos esses louvores, e quando não são louvores recebem pelo menos toda a atenção... Então porque se sentem sempre feridos?» O público tem razão. Por razões que não vou aqui discutir, primitivas e valiosas experiências na minha vida de escritora deram-me um sentido  de perspectiva a respeito dos críticos e comentadores , mas quando surgiu este romance, O Caderno Dourado, perdi-o. Pensei que na maioria dos casos a crítica era demasiado idiota para ser verdadeira. Ao recuperar o equilíbrio, compreendi o problema. Acontece que os escritores procuram nos críticos um alter ego, um outro eu mais inteligente do que o nosso, que entendeu aquilo que pretendíamos e que nos julga apenas por termos ou não atingido o que pretendíamos. Nunca encontrei um escritor que, ao encarar finalmente esse ser raro, o verdadeiro crítico (que ocasionalmente existe), não se liberte de toda a paranóia e não se torne agradecidamente atento... pois encontrou aquilo que pensa que necessita. Mas o que ele, escritor, pede é impossível. Porquê esperar por esse ser extraordinário, o crítico perfeito, por que motivo deverá existir alguém que compreenda o que ele está a tentar fazer? No fim de contas, há uma única pessoa, em particular, a fiar esse casulo, e uma única pessoa cuja obrigação é fiá-lo.
 Não é possível aos recensores literários e críticos fornecerem o que dizem que fornecem... aquilo por que os escritores anseiam de um modo tão ridículo e infantil.
 E isso porque os críticos não foram educados para o fazer e o seu treino leva-os na direcção oposta.
 Tudo principia quando a criança tem cinco ou seis anos e chega à escola. Começa com pontuações, recompensas, «lugares», «correntes», estrelas... e, ainda em muitos sítios, galões . Esta mentalidade de corrida de cavalos, a maneira de pensar do vencedor e do perdedor, leva a: «O escritor X vai ou não vai alguns passos à frente do escritor Y . O escritor Y ficou para trás. No seu último livro, o escritor Z demonstrou ser melhor do que o escritor A.» A criança é treinada para pensar deste modo desde o princípio, sempre em termos de comparação, de êxito e de falhanço. É um sistema de eliminação, o fraco fica desencorajado e desiste. É um sistema destinado a produzir uma minoria de vencedores sempre em competição uns com os outros. Penso - mas este não é o local para desenvolver este assunto - que os talentos que cada criança possui, independentemente do seu quociente de inteligência oficial, poderiam manter-se durante toda a vida, enriquecendo-a a ela e a toda a gente, se esses talentos não fossem encarados como um bem com um valor no mercado do êxito. (...) Como qualquer outro escritor, recebo constantemente cartas de jovens de vários países, mas muito em especial dos Estados Unidos, que se preparam para escrever teses ou ensaios sobre os meus livros. Todos dizem: «Por favor, envie-me uma lista dos artigos sobre o seu trabalho, dos críticos que escreveram a seu respeito, dos especialistas.» Pedem-me também mil pormenores de total irrelevância, mas que foram ensinados a considerar como importantes para formarem um processo, como se trabalhassem num departamento de imigração.
 A esses pedidos respondo como se segue: «Caro estudante, és louco, Para quê passar meses e anos a escrever milhares de palavras acerca de um livro, ou até acerca de um escritor, quando há centenas de livros à espera de serem lidos? Não vês que és a vítima de um sistema pernicioso? E se tu mesmo escolheste o meu trabalho para tema, e se tens mesmo de escrever uma tese - e acredita que me sinto muito grata por saber que consideras útil aquilo que escrevo -, então porque não lês o que escrevi e tiras as tuas próprias conclusões a respeito do que pensas, testando-as com a tua própria vida, a tua própria experiência? Não te rales com o que dizem os professores Fulano e Beltrano.»
 «Caro escritor», respondem-me «mas eu preciso de saber o que os especialistas dizem, porque se não os citar o meu professor não me dará uma boa classificação.»
Doris Lessing, O Caderno Dourado, pp XI, XII, XIII, XIV, Circulo de Leitores.  

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